Capítulo XV

A aula com os instrutores consistia basicamente em regras e etiquetas a serem seguidas por uma princesa, com ênfase na moral inabalável de uma jovem que estava prestes a casar, uma pré-nubente com uma posição privilegiada.

Era enfadonha e cansativa. Tudo o que ouvia e tinha que repetir eram regras as quais a princesa, tão sedenta de liberdade, não conseguia aceitar ou sequer entender. Cada gesto deveria ser pensado e ensaiado. Cada olhar, cada palavra, tudo deveria ser treinado à exaustão.

Por várias vezes percebeu que havia uma preocupação especial em treiná-la para o momento de apresentação aos candidatos, ocasião em que os mesmos trariam presentes e se portariam como verdadeiros nobres merecedores do cargo real de príncipe do reino.

As instruções eram detalhadas. Ela deveria mostrar-se delicada e submissa. Educada e discreta. Sorrisos deveriam ser cuidadosamente contidos. Não deveria, no entanto, mostrar-se mal-humorada ou taciturna. Deveria também ser doce e suave, usando palavras curtas se e quando fosse estritamente necessárias ou solicitadas pelos pais.

Passou toda a manhã com os vários instrutores. Eram quatro mulheres e um homem.
A primeira mulher cuidava das vestimentas e sapatos a serem usados por uma princesa de respeito. Como deveriam ser usados, de que forma a cauda dos vestidos deveria ser posicionada em relação ao corpo e ao sentar, quanto da ponta do sapato poderia ficar à mostra por debaixo do vestido, em que posição o xale deveria ficar em seus ombros e coisas semelhantes.

A segunda mulher era a instrutora de etiqueta. Cuidava de seu comportamento propriamente dito. Como ela deveria andar, sentar-se, olhar para objetos, olhar para pessoas, sorrir com realeza, comer em público ou não, agradecer, posicionar as mãos. Instruía inclusive a como virar a cabeça delicadamente para o lado quando assim fosse necessário demonstrando desagrado e mais coisas absurdamente detalhadas e ridículas no seu entender.

A terceira mulher, juntamente com o homem, a treinava para conversar. Tratava-se de conversa fictícias onde vários assuntos eram abordados. Caberia a ela mostrar sua cultura de maneira brilhante mas mantendo seu mistério. Ao mesmo tempo, obtinha instruções de coisas que nunca deveriam ser ditas ou assuntos que não deveriam ser abordados. Simulavam conversas que poderiam vir a ocorrer no dia da tão esperada recepção e alertavam a pequena princesa em relação a cada resposta possível e aceitável em cada situação específica.

A quarta mulher era um verdadeiro mistério. Estava sempre presente às outras aulas mas nunca dizia nada, apenas observava. Tinha uma expressão indefinível no rosto magro e chegava a incomodar quando se movia para ver melhor o rosto da princesa enquanto seguia as instruções dos outros. Tentava não cruzar os olhos com a mulher mas, invariavelmente, isso acontecia. E a sensação de invasão era brutal!

No final da manhã o cansaço já havia tomado conta de seu corpo e a única coisa em que ela pensava era tomar um banho longo e relaxante para recompor-se e poder continuar com suas investigações. Sentia-se exausta mas os mistérios que rondavam sua vida eram muitos demais e a urgência em descobrir respostas para todos os últimos acontecimentos era mais forte ainda.

Ao despir-se percebeu algo caindo no chão e lembrou-se do papel dobrado em seu cinto. Um mapa, encontrado na biblioteca tomada pela desordem. Recostou-se na linda banheira ainda pensando no mapa e tentou relaxar seus músculos cansados, um a um. A água morna mostrou-se um sonífero poderoso e a bela princesinha não conseguiu evitar o cochilo. Seus olhos foram se fechando e ela achou que não havia mal em permitir um breve intervalo em seu dia tão cheio.

Poucos minutos depois o cochilo transformou-se em um sono profundo, cheio de imagens estranhas e indefinidas. Não havia som algum, apenas imagens. Pessoas com as mãos cobrindo o rosto. Quando tiravam as mãos, não havia nada, não havia rosto, apenas uma mancha desagradavelmente obscura. Para onde olhasse era só o que via. Sentiu-se sufocada e acordou assustada. Terminou o banho rapidamente e resolveu que não poderia deixar que sonhos perturbadores voltassem a tomar conta de suas noites. Tinha que solucionar todos os mistérios que se acumulavam em sua vida!

Sem saber exatamente para onde devia ir parou por alguns instantes no corredor para resolver qual seria o próximo passo. Percebeu que não havia com quem contar neste momento. Theodore e Moira não se encontravam no castelo e William... bem, William não poderia estar o dia todo no jardim à sua disposição. Assim, voltou ao quarto e pegou o mapa o qual ela havia escondido em sua caixa de jóias. Guardou-o novamente em seu cinto e dirigiu-se à biblioteca a fim de observar melhor os livros que estavam sobre a mesa. Se aquele papel realmente era um mapa, havia de decifrá-lo!

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