Capítulo XIV

Pensou que talvez tivesse ouvido mal... - “William Hartman Coli?”- Ficou olhando para o rapaz como se de um momento para outro ele pudesse desfazer o engano. Mas percebeu que não tinha verbalizado suas dúvidas, e sim apenas pensado nelas. Corou ao perceber que o encarava. Então disse:
- William Hartman?...
- Coli, princesa. William Hartman Coli. Como Theodore.
Ela apenas piscou sem nada conseguir dizer. Sentiu-se estranhamente confusa. “Como Theodore... deve ser seu filho então. Mas por que não pode ser visto? Não parece ser filho de Theodore, não há nenhum traço de semelhança. Ou de Moira tampouco. Então quem será ele?”
- Como Theodore? E ele é seu...
- Pai, princesa. Sou filho de Theodore e Moira.
- Nunca soube que tinham um filho... mas na verdade, nunca soube nada de Theodore ou de Moira. – disse a pequena princesa. Depois, continuou como se pensasse alto:
- Aliás, só soube o nome de Moira alguns momentos atrás... ambos se ausentaram para resolver problemas pessoais. E você é filho deles.
- Sim, princesa. Theodore e Moira precisaram resolver algumas pendências importantes.
- Sim, claro. – percebeu então que estivera divagando. – E por que então é necessário que ninguém o veja?
- É uma longa história, princesa. Muito longa. Apenas posso dizer que os guardas do castelo não devem saber que vossa alteza anda falando com plebeus dentro do próprio jardim.
- Sim, disso eu tenho certeza. Mas ainda não entendi o motivo de você também não ser empregado do castelo como seu pai e sua mãe.
- Digamos assim, princesa... não moro e nem trabalho aqui pois já houve, em outros tempos, acontecimentos... controversos, que me impedem de transitar por este castelo. Mesmo que eu tentasse trabalhar aqui não seria bem aceito, compreende?
- Sim, mas... não, não entendo não; porém, se está aqui clandestinamente deve ter sido algo grave... estes acontecimentos a que se refere, foram coisas que você fez e não deveria ter feito?

O rapaz então conteve um sorriso ao perceber que a princesa procurava de todas as formas descobrir mais alguma coisa, deixando de lado a postura real e, quase como uma criança, perguntando e questionando suas palavras.
- Bem, é mais ou menos isso. Mas eu não diria que foram atos de tal gravidade mas sim, um tanto inconseqüentes de minha parte. Eu era ainda um fedelho na ocasião.
- Ah, sim. Bem... então, não é exatamente um “procurado” pela guarda real?
- Não exatamente. Mas mesmo algo que não está sendo procurado pode ser encontrado e trazer consigo algumas lembranças desagradáveis, sendo portanto melhor que não seja encontrado.
- Certo, entendi... eu acho. – E sorriu diante da resposta espirituosa do rapaz.

Olhou para ele admirou mais uma vez os cabelos em desalinho. Não pareciam sujos, apenas mal cuidados. Percebeu então que isso não importava. Apenas sentiu vontade de penteá-lo, cuidadosamente. Sentiu-se bem com esse pensamento. Imaginou sua escova dourada de cerdas macias percorrendo aquela cabeleira cor de trigo e quase podia sentir entre seus dedos os fios rebeldes resistindo no início mas aceitando finalmente o afago disfarçado. Corou novamente e viu nos olhos cor de esmeralda um brilho de amizade e humor.

Pensou que não poderiam continuar assim, simplesmente se olhando. Não era certo e poderia ser interpretado como um interesse maior. Passou pela sua cabeça então a frase “o que é certo ou errado se vem do coração?”. Assustou-se com o rumo de seus pensamentos e já ia retomando a conversa quando ouviu seu nome sendo chamado. Estava na hora de sua aula de etiqueta.

Após uma rápida mesura o rapaz sorriu e acenou, já se escondendo por entre os arbustos a fim de evitar ser descoberto. Em um instante a princesa se encontrava só novamente, como se nada tivesse acontecido. Não podia ficar ali rememorando os últimos momentos. Era hora da tortura diária com instrutores maçantes e regras inúteis, as quais ela tinha que suportar. E assim, foi-se.

2 comentários:

Ana Paula disse...

Eita, que estava atrasada na minha leitura!

legiãosuburbana disse...

Li um pouc e já gostei um muito.
Siga em frente!!!