Capítulo VII

O dia estava bonito e o castelo parecia estranhamente diferente. Algo parecia ter mudado, algo muito sutil. Andou pelos corredores e percebeu que, em tantos anos, nunca reparara nos lindos afrescos das colunas que se espalhavam pelo caminho. Nas paredes, obras de arte de todas as escolas e retratos de pessoas que ela nunca havia conhecido. Os quadros eram grandes em sua maioria, bastante grandes. Enquanto ia caminhando para a biblioteca, quase sem perceber, foi diminuindo o ritmo, parando vez ou outra para apreciar esta ou aquela obra. As esculturas eram muito expressivas e os vasos de uma beleza ímpar. Realmente, eram coisas belas.

De repente, lembrou-se dos livros e apressou o passo novamente. Quando lá chegou, estava ofegante e ansiosa. Seu rosto delicado tingira-se de um rosa suave e saudável. Seus olhos brilhavam de excitação ao imaginar o que descobriria hoje, já que teria em suas mãos, os livros onde poderia encontrar as respostas aos seus sonhos.

O senhorzinho já a esperava, com uma expressão indefinida e uma pequena pilha de livros ao seu lado. Sua postura era impecável e sua cabeça calva brilhava. O monóculo repousava em seu bolso, preso por uma fina corrente dourada. Seus olhos cruzaram com os da princesa por um instante e o tempo pareceu parar. Rapidamente, ele desviou o olhar e restou nela a impressão de que devia estar imaginado coisas. Fechou os olhos, deu um suspiro e abriu-os novamente. É, devia ter sido sua imaginação. Deu um leve sorriso ao homem e postou-se à sua frente, como uma criança pronta a ver um truque interessante. Após um polido bom dia, ele pegou a pilha de livros e, com gestos educados, levou até a mesa grande convidando-a a sentar-se. Pegou cada um dos livros e descreveu-os rapidamente a ela, saindo em seguida da sala.

Ali estava ela, tão ansiosa que não conseguia focar as letras. Pegou um copo de água e sorveu alguns goles. Começou a ler o primeiro livro mas sua ansiedade não lhe permitia concentrar-se. Pelo índice percebeu que tratava-se da história de um reino próximo ao seu. Resolveu descartá-lo e passar para o próximo. Mas nenhum deles era de seu reino, exceto o último. Começou a ler devorando cada palavra.

A história começava com acontecimentos de muitos anos atrás. Descobriu coisas interessantes mas, superficiais. Quando chegou ao final percebeu que o mesmo relatava a história até antes de seu nascimento. Precisava de um livro mais recente. Ou jornais antigos. Começou a ficar nervosa ante a perspectiva de não conseguir informação nenhuma. Constatou infeliz que, teria que se arriscar e perguntar diretamente por um livro que tratasse do ano em que nascera. Se fosse indagada a respeito poderia dizer apenas que estava curiosa por saber de acontecimentos passados, sem nenhum foco especial.

Chamou novamente o livreiro e fez o pedido de maneira natural. No momento em que fez a pergunta, viu nos olhos do homem um brilho diferente e, antes que ele pudesse responder, se ouviu perguntando a ele o seu nome. Não sabia de onde teria vindo aquele impulso mas, sabia que isso agora era o mais importante. Ele então prendeu o ar e sua expressão anuviou-se quase que instantaneamente. Como se naquela pergunta estivesse todo um mundo de informações, ela esperou pela resposta, os olhos arregalados fitando os olhos à sua frente. Eram olhos verdes, profundos e calorosos. E a resposta veio numa voz doce e firme:

- Meu nome, minha princesa, é Theodore. Theodore Coli, madame. - e com estas palavras, sorriu. E este sorriso iluminou a pequena princesa como quando se encontra algo que há muito foi perdido.

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