Capítulo II

Seus sonhos agora eram seu segredo e seu tesouro. Acordava sentindo o sabor das suas fantasias. E se deliciava com as sensações. Eram tantas, tão novas e tão intensas. Nunca sequer imaginara poder viver algo assim. Esperava ansiosa pelo momento de deitar-se entre os lençóis de seda para, com sorte, logo poder mergulhar nos sonhos mais íntimos que agora eram tão importantes. E, quando amanhecia, estava feliz, estranhamente satisfeita e, pronta para o novo dia. Isso durou alguns meses.

Ela agora era uma pessoa diferente, mais alegre e sorria quase todo o tempo. Ninguém entendia o que teria acontecido com a princesinha que sempre fora tão taciturna e agora, florescia.

Porém, numa noite, o sonho se tornou pesadelo! Nele, viu todos os seus sonhos lhe escapando por entre os dedos. As cores se tornaram escuras, já não eram mais belas. Sentiu-se muito sozinha e acordou banhada de um suor sofrido, desesperado.

A pequena princesa agora se sentia completamente desamparada. Em seus sonhos agora via apenas uma imagem, no início indefinida, mas que pouco a pouco foi tornando-se mais e mais nítida. Uma figura sinistra e assustadora, que ia aproximando-se devagar... não sabia exatamente sua intenção mas sentia um medo crescente e um cheiro de podridão que lhe tomava os sentidos.


A cada dia o sonho avançava mais um pouco. Apesar do medo crescente ela sentia que teria que sonhar mais e mais vezes ou nunca saberia o que aquilo poderia significar. À medida que aquele macabro desconhecido aproximava-se, Princesa Ameba tentava se afastar mas, suas pernas não obedeciam, o medo tomando conta de seu corpo e aquele cheiro... aquele cheiro que impregnava o ar deixando uma sensação de perda e dor. Tudo isso ocorria em seus sonhos mas ela vivia aquilo com tal lucidez que não poderia ser mais real. Chegava a doer fundo, todo aquele emaranhado de sensações desagradáveis que arrombavam agora seus momentos mais íntimos. Momentos que já haviam sido tão maravilhosos e mágicos, eram agora sua antítese, numa versão caprichosamente funesta.

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