Capítulo XIII

O acordo firmado entre a Princesa e a pessoa que se escondia no jardim real trazia agora a esperança de encontrar as respostas que tanto buscava. Soava como um início, o primeiro passo para desvendar todos os mistérios que se acumulavam dia após dia. Um sorriso brincou em seus olhos ao ouvir a resposta afirmativa daquele que seria agora alguém real com nome e corpo.

Aguardou em silêncio por alguns instantes e já começava a impacientar-se quando ouviu o barulho suave de folhas, logo atrás de si. Virou-se devagar com um misto de curiosidade e temor.

Nunca poderia imaginar aquilo que seus olhos agora admiravam. Eram os olhos verdes mais lindos que já havia visto . Os cabelos um pouco emaranhados possuíam vários tons de loiro e dourado e caíam desordenadamente ao redor de um rosto bonito e corado. Uma boca perfeitamente delineada adornava a expressão de receio e o olhar tímido a atingiu como um raio de calor e eletricidade que percorreu todo o seu corpo em instantes.

Neste instante uma brisa roçou seu rosto e um pássaro cantou em algum lugar do jardim. Ela sorriu levemente, quase sem perceber, num puro sentimento de alívio e prazer. Alívio por perceber que seus temores em relação àquela pessoa misteriosa deviam ser imaginários. E prazer por sentir-se tão bem ao deitar os olhos sobre criatura tão encantadoramente diferente de todas as pessoas que já havia conhecido em toda a sua vida.

O rapaz parecia muito simples e humilde. Porém, era definitivamente uma pessoa boa, de coração grande e absolutamente agradável de ver. Devia ter mais ou menos a sua idade, mas não tinha o trato de um nobre, como ela. Um pensamento fugaz passou pela sua mente: “como seria ela mesma vivendo nas mesmas condições que ele?” - mas o pensamento logo fugiu do alcance de sua mente. Quando percebeu que estivera encarando avidamente o rapaz, baixou os olhos corando de vergonha pela ousadia. Pigarreou e disse, ainda olhando para baixo:
- Muito bem. Agora me diga quem é você e por que se esconde aqui no meu jardim?

O rapaz suspirou antes de responder suavemente:
- Venho aqui neste jardim para poder vê-la, princesa. Aqui eu posso, ou podia até que fui descoberto, vê-la sem nenhuma interferência de sua posição real. Aqui posso vê-la como realmente é em sua essência.

A princesa ouviu a resposta em silêncio e demorou alguns segundos para captar o tom de admiração por parte do rapaz. Quando finalmente percebeu, corou ainda mais e nada pôde dizer. Sentiu-se ao mesmo tempo admirada e invadida em sua intimidade. Tinha plena consciência de que lá, naquele jardim, despida de todas as máscaras, era apenas uma jovem, com os anseios e conflitos de uma adolescente normal. Ao perceber que alguém, sem sua permissão, estivera a observando durante momentos tão íntimos, sentiu-se envergonhada. Porém, não foi capaz de retrucar ou reclamar pela sua intimidade invadida. Apenas esperou que ele continuasse, como uma criança pega em uma de suas peraltices.

Mas ele não continuou imediatamente. Um silêncio quase desconfortável começou a instalar-se e ela arriscou levantar um pouco os olhos. O que viu a fez sentir-se mais tranqüila. Ele parecia tão ou mais constrangido que ela pela revelação recente. Olhava para as próprias mãos e seus cabelos em desalinho cobriam seu rosto bonito.

Então, como se o silêncio não pudesse mais suportar o próprio peso, ele se desfez. O rapaz disse pausadamente com sua voz suave:
- Meu nome, minha princesa... – e fez uma pausa carregada de significados - é William. William Hartman Coli.
E a simples menção desse nome trouxe consigo uma nova brisa com cheiro de saudade e felicidade .

0 comentários: